ORQUESTRA ACADÉMICA DO CEPAM no FESTIVAL AQUI E ACOLÁ 2019


É com enorme júbilo, prazer e motivação, que a Orquestra Académica do Conservatório integra a programação do Festival Aqui e Acola 2019. Neste festival tão ecléctico nas diferentes estéticas artísticas, a Música Clássica estará em palco no Centro Cultural John dos Passos, dia 30 de maio, pelas 20h30, com esta orquestra sinfónica, constituída por 58 alunos que frequentam os Cursos Profissionais de Instrumento e o Ensino Artístico Especializado do nosso Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira, Engº Luis Peter Clode. Para este concerto, sob direção do Maestro prof. Francisco Loreto, será apresentado um programa sinfónico muito agradável e acessível a toda a gente, com obras representativas do repertório romântico do sec. XIX, materializados nas partituras por Tchaikovsky, Beethoven, Mendelssohn, Grieg e Reinecke. Duas destas obras são concertantes, ou seja, para solistas com acompanhamento de orquestra. Desta feita, a Orquestra Académica irá acompanhar 2 fantásticos jovens, um solista em violino e uma solista em flauta transversal, que apesar de serem estudantes, têm um nível técnico e artístico extremamente elevado. Estes dois alunos solistas foram vencedores do XIIº Concurso Infantojuvenil do Conservatório, edição de 2018. Será uma grande oportunidade de o fantástico público da Ponta do Sol apreciar estes talentos artísticos, que terão certamente uma carreira musical promissora.  

NOTAS DE PROGRAMA*

Carl REINECKE (1824-1910) – Concerto para Flauta em Ré Maior, op. 283; solista em Flauta Transversal: Ana Luísa Catanho.

Esta fantástica obra para Flauta e Orquestra foi composta em 1908 por este compositor alemão Carl Reinecke quando tinha 84 anos de idade, e foi o último concerto que ele compôs antes de sua morte. Foi estreado a 15 de março de 1909 em Leipzig, Alemanha, pelo flautista virtuoso Maximilian Schwedler, a quem a peça é dedicada. Esta obra concertante, que explora com mestria a expressividade e as potencialidades técnicas deste instrumento solista, a Flauta Transversal, tem como a generalidade dos concertos para instrumentos e orquestra, 3 andamentos contrastantes. A Ana Luísa Catanho, acompanhada pela Orquestra Académica interpretará o respetivo 1º andamento desta obra.

Felix MENDELSSOHN (1809-1847) – Concerto para Violino e orquestra, op. 64; solista em Violino: Rodrigo Pimenta Freitas

Um dos concertos para violino e orquestra mais importantes do repertório deste instrumento e um dos mais tocados em todo o mundo é precisamente este Concerto em Mi menor do compositor alemão Mendelssohn, que o Rodrigo Pimenta Freitas apresentará o 1º dos seus 3 tradicionais andamentos. Mendelssohn começou a compor este belíssimo concerto de violino em 1839, mas como era um compositor muito exigente consigo próprio, e o seu desejo era compor uma obra prima do repertório para violino, então ele levou 6 anos até completar a composição desta obra. Para que a mesma fosse ‘perfeita’ do ponto de vista das próprias técnicas específicas do violino, Mendelssohn pediu a colaboração de um dos violinistas mais famosos do seu tempo, o Ferdinand David. Foi então o próprio Ferdinand David que estreou este fantástico concerto para violino a 13 de março de 1845, tendo o mesmo obtido um estrondoso sucesso, sucesso esse que se veio a consolidar ao longo dos tempos, tornando esta obra numa das mais populares e mais reconhecidas para o instrumento violino. Será certamente a primeira vez que esta obra se fará ouvir e apreciar na vila da Ponta do Sol, tal como acontece pelas principais salas de concerto do mundo. Que desfrutemos desse privilégio.


Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) - Abertura «Egont», op. 84

Precisamente no ano em que Mendelssohn nasceu, em 1809, Beethoven compôs um conjunto de peças musicais para acompanhar uma peça de teatro, intitulada «Egmont», escrita em 1787 pelo famosíssimo dramaturgo alemão, Johann Wolfgang von Goethe. Consiste esta obra musical então num conjunto de andamentos constituídos por uma Abertura, seguida por uma sequência de nove peças para cantora soprano, narrador masculino e orquestra sinfónica completa. Neste concerto integrado no Festival Aqui e Acolá, a Orquestra Académica irá interpretar precisamente a Abertura desta obra «Egmont». Podemos considerar esta Abertura uma peça descritiva, pois a mesma contém elementos musicais (temas) que podemos associar à seguinte história: Beethoven na altura em que compôs esta obra, a sua cidade, Viena, estava ocupada pelo exército francês de Napoleão Bonaparte. Beethoven vivia assim privado da sua liberdade, que era totalmente oprimida por este regime invasor. Nesta altura ele compõe esta obra musical «Egmont» como representação simbólica dos seus sentimentos de revolta pela opressão em vive: «Egmont» é uma história que se passou em meados do sec. XVI, em que os Castelhanos conquistaram os Países Baixos, tendo o rei castelhano opressor, D. Filipe III nomeado o seu primo Conde Egmont como governador desta região, em nome do reino de Castela. Como D. Filipe III era um católico devoto, proibiu o povo dos Países Baixos, que eram protestantes, de professar a sua respetiva fé. O Conde Egmont não concordava com esta opressão religiosa, e então o Rei de Castela, D Filipe III,  acusou Egmont de traição, condenando-o à morte. Porém, com o Conde Egmont executado e transformado em mártir, o povo dos Países Baixos uniu-se e revoltou-se contra a opressão de Castela, conseguindo a sua Liberdade. Esta história está presente nesta Abertura «Egmont» de Beethoven, pois conseguimos identificar temas ‘violentos’ e rudes que representam D. Filipe III, e também temas ‘dolorosos’ que representam a figura oprimida de Egmont e do povo dos Países Baixos. Esta Abertura divide-se em duas partes: temos uma primeira parte, de maior proporção, em que a luta entre a opressão castelhana e o sofrimento de Egmont está bem presente, neste caso com uma tonalidade menor, que é mais ‘escura’, turbulenta e em que sonoridade é mais profunda, num registo geral mais frequente nos sons graves. Depois, já quase bem perto do fim desta obra, temos uma segunda parte totalmente contrastante, desta feita numa tonalidade maior, mais ‘brilhante’ e triunfante, em registo agudo (com ajuda do Flautim e dos primeiros Violinos), em que com uma grande dose de energia, sentimos a força da vitória e da comemoração da libertação. A separar esta duas 2 partes, podemos ouvir um curto motivo musical, que representa a própria ‘execução’ da sentença de morte do Conde Egmont, seguido de um coral nos instrumentos da família das madeiras, que representa a materialização de Egmont como um mártir. Nesta parte da partitura original, Beethoven escreveu a seguinte indicação: «A morte não é um fim em si mesmo, quando os Ideais permanecem vivos!» Para todos os ouvintes atentos, certamente irão reconhecer estas ideias descritivas aqui apresentadas, e que fazem desta obra de Beethoven, uma das obras de referência do repertório sinfónico deste imortal compositor. 

Eduard GRIEG (1847-1907) – Danças Sinfónicas, op. 64

Em 1898, o compositor norueguês Grieg compôs uma obra para orquestra sinfónica, com 4 andamentos, que designou por “Suite de Danças Sinfónicas”. Cada andamento desta obra é um tipo de dança, com caracteres contrastantes entre eles, mas com uma sonoridade em comum, resultante do seu próprio estilo de escrita musical, que tem alguma influência da sonoridade característica da música norueguesa. Por este facto, Grieg, como muitos outros compositores do seu tempo que aproveitavam estas influências das suas terras natais, são designados na História da Música por ‘compositores nacionalistas’. Das 4 danças que constituem esta suite, neste concerto serão interpretadas as duas primeiras, por ordem inversa (Nº 2 e Nº1). Todas estas danças sinfónicas têm em comum a sua própria estrutura formal, que é a conhecida Forma ABA, ou seja, temos uma 1ª secção (A), depois uma outra contrastante (B) - num andamento mais calmo e tonalidade diferente - e depois novamente repete-se a 1ª secção (A). Na Dança nº 2, podemos destacar as belas melodias que Grieg criou e atribuiu ao instrumento oboé, que depois são repetidas pelos violinos. Pelo meio desta Dança, temos a secção B com temas musicais mais atribulados. Quanto à Dança nº 1, esta é muito mais energética, pomposa, muito ritmada, enquanto que a 2ª secção (B) é contrastante, mais calma, com temas mais escuros e expressivos. A repetição da secção A é encurtada, tendo Grieg acrescentado uma Coda (secção conclusiva) bastante virtuosa para um final muito empolgante. Foi por este final ser mais conclusivo na Dança nº 1 do que na Dança nº 2, que foi feito a opção de trocar a ordem dos andamentos neste concerto, o que é possível se fazer quando uma obra não é apresentada na totalidade, como neste caso.

Peter I. TCHAIKOVSKY (1840-1893) – Abertura 1812, op 49

Para quem lê estas Notas de Programa, poderá achar estranho este concerto sinfónico concluir com uma obra que se intitula por «Abertura»! Efectivamente, em contexto de concerto, as Aberturas Sinfónicas não têm de ser obrigatoriamente interpretadas apenas como obra inicial dos concertos. Os compositores designam por «Aberturas» não só as obras compostas como um andamento inicial de uma obra muito grande (como a ópera, por exemplo) mas também obras ou peças orquestrais escritas para serem tocadas como música solene em eventos comemorativos. É precisamente neste contexto que Tchaikovsky compôs esta «Abertura 1812». Estávamos em 1882, em Moscovo, Rússia, e precisamente durante a Exposição Universal das Artes, foi consagrada uma nova catedral construída em honra e comemoração da vitória das tropas russas, que, precisamente em 1812, conseguiram derrotar e aniquilar o poderoso exército francês de Napoleão Bonaparte, e assim, desta forma contribuíram para a libertação de toda a Europa destas evasões napoleónicas. A estreia desta obra ocorreu precisamente na cerimónia de consagração desta catedral. Como é uma obra descritiva, podemos encontrar na mesma 2 temas musicais importantes: um tema que é a conhecida melodia francesa «A Marselhesa» que representa o exército napoleónico, e temos outra melodia que é muito conhecida na Rússia como Hino «Deus salve o Czar», que representa o lado russo nesta disputa. Esta melodia russa é exactamente a que inicia esta obra, numa espécie de coral tocado pelas cordas da orquestra, num registo meio grave, a imitar um coro de vozes masculinas, muito característico na Rússia.  No final da obra ouvimos novamente este coral em fortíssimo nos metais, sobrepondo-se à «A Marselhesa» nas cordas, representado assim o triunfo do exército russo sobre o francês e respetiva comemoração da vitória. Em muitos concertos em que esta obra é tocada ao ar livre, neste mesmo final pomposo e triunfante, poderemos ouvir salvas de tiros de canhões militares, notas essas escritas pelo Tchaikovsky na partitura original. Na nossa interpretação, esses tiros de canhões serão substituídos por sons produzidos pelo bombo sinfónico. Será com esta enorme energia que a Orquestra Académica concluirá este concerto, que esperamos muito que seja do vosso agrado.

* Francisco Loreto
Ponta do Sol, Abril de 2019

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